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Entrevista | Ciro dá alternativa sobre preço dos combustíveis, denuncia Moro, ataca Lula e elogia projeto de Coruja em SC

Por: Marcos Schettini
04/11/2021 13:33 - Atualizado em 04/11/2021 13:40
Divulgação

Mesmo anunciando a suspensão da pré-candidatura à Presidência da República pelo PDT, após apoio da sigla na PEC dos Precatórios na madrugada desta quinta-feira (04), há alguns dias o ex-governador Ciro Gomes fez um roteiro por Santa Catarina, reuniu-se com sua militância e concedeu entrevista ao jornalista Marcos Schettini.

Agora, sempre convicto de suas ideias, o cearense se disse surpreso com a decisão do partido em apoiar projeto do governo, que foi aprovado em votação apertada na Câmara dos Deputados. “A mim só me resta um caminho: deixar a minha pré-candidatura em suspenso até que a bancada do meu partido reavalie sua posição”, afirmou via Twitter, mostrando um racha que expõe fragilização de sua liderança no PDT.

Na entrevista concedida em Florianópolis, Ciro Gomes relata a situação da Petrobras e apontou medidas que mudariam decisões tomadas após a eleição de Bolsonaro, mostrando como a gasolina poderia estar custando cerca de R$ 4,20 no cenário atual. Ainda, se disse diferente para convencer o eleitor e tirou sua culpa sobre o resultado de 2018, afirmando “não ser obrigado a fazer campanha com quadrilha”.

Atacou Sergio Moro, classificando-o como corrupto que ganha em dólar, trabalha nos EUA como controlador da massa falida da Odebrecht e que serve aos interesses norte-americanos. Fez duras críticas ao ex-presidente Lula da Silva e intitulou-o de autor da corrupção do PT, citando nomes de envolvidos em esquemas de corrupção que sempre estiveram ao lado do petista, como Eunício Oliveira, Eduardo Cunha, Michel Temer, Ciro Nogueira e Geddel Vieira Lima. Ainda, elogiou o PSDB de Tasso Jereissati e parabenizou o amadurecimento de Fernando Coruja em Santa Catarina. Confira:


Marcos Schettini: O senhor vê a Petrobras a serviço de quem?

Ciro Gomes: Há alguns dias a Petrobras anunciou um lucro de R$ 31,8 bilhões em três meses. Qualquer empresa endividada, se tiver um lucro muito grande, usa esse valor para abater suas dívidas ou então ampliar investimentos. A Petrobras anunciou então que vai, de novo, adiantar R$ 32 bilhões de lucros e dividendos empresariais para seus acionistas minoritários. Isso é um escárnio, um insulto, numa hora em que o povo brasileiro está sofrendo tanto. Eu não poderia deixar de apresentar esse número nesta passagem por Santa Catarina, aproveitando o nervo exposto da nossa democracia, que é a nossa mídia, especialmente a mídia nos Estados, que não obedece as conveniências do baronato.

Schettini: Então qual é a saída?

Ciro Gomes: Para desmentir a mentira grosseira do Bolsonaro, de que não pode fazer nada, que seria preso, isso é uma rigorosa mentira. Não há nenhuma lei que determina isso. O que se pode fazer para resolver? Num primeiro dia de um governo que eu presida, serão publicadas muitas iniciativas. Uma delas será específica em relação a isso. Será publicado um edital de convocação de uma assembleia extraordinária do Conselho de Administração da Petrobras, quando vou determinar que ela volte a praticar a política de preços que o mundo inteiro pratica e que ela praticou desde 1954 até o governo Bolsonaro, que é custo somado à rentabilidade. Como isso vai causar um impacto nas ações dos acionistas minoritários, será publicado neste mesmo dia, um edital em que o BNDESPar, vai anunciar que vai comprar as ações dos acionistas minoritários que acharem ruim. Isso no primeiro dia do governo. Estou ensinando Bolsonaro como fazer. Se as ações tendem a desvalorizar porque eu vou trocar a política de preço, o governo brasileiro se interessa em comprar todas as ações que quiserem vender. No limite, irei retirar a Petrobras da bolsa de valores de Nova York, porque lá, em função de tudo o que o Lula e o Fernando Henrique fizeram, nós nos submetemos a uma governança que viola a soberania brasileira. Só pelo fato de termos ações da Petrobras na bolsa de Nova York, não há razões para isso, a Justiça americana pode nomear um interventor dentro da Petrobras, coisa que já está acontecendo. Hoje tem uma sentença de um juiz determinando que haja um interventor estrangeiro norte-americano dentro da Petrobras.


Schettini: Qual é o preço real da gasolina, na sua lógica?

Ciro Gomes: Eu fiz esse cálculo, mas agora é preciso refazer todo dia. O defeito é que o Bolsonaro vinculou o preço do barril do petróleo, que é o principal custo, não ao custo Petrobras, que é apurado em real, mas ao preço de oportunidade que a Petrobras ganharia se não vender ao povo brasileiro, vendesse ao mercado especulativo de Rotterdam. Aqui custa US$ 15 tirar um barril, e lá, pela especulação, é US$ 40 ou até US$ 110, dependendo da especulação do dia. O que eles estão fazendo? Ao invés de cobrar os US$ 15, que custa para produzir em real, eles cobram o preço de oportunidade daquele dia, se esse barril ao invés de ter sido vendido ao povo brasileiro, fosse vendido lá.

A Petrobras tira um petróleo pesado. O pré-sal é um tipo de petróleo diferente de brent, então ao descobrir essa riqueza extraordinária, fez um projeto de investimento para adaptar as refinarias para processar esse petróleo mais pesado e expandir a capacidade de refino para atender ao mercado brasileiro com projeto de futuro, para nacionalizar toda a produção e gerar emprego e impostos aqui.

Pois bem, o governo Bolsonaro suspendeu investimentos em várias refinarias, paralisou 1/3 da produção do petróleo brasileiro e explodiu a importação, enquanto as refinarias estão paradas, ociosas e enferrujando. Tudo o que você importa vem em dólar. O Bolsonaro toma posse o dólar está R$ 3,70 e hoje está R$ 5,66. Subiu o dólar, subiu os preços. O preço da gasolina brasileira, já com rentabilidade ótima, em linha com as melhores práticas internacionais, estaria ao redor de R$ 4,20 o litro da gasolina.

Schettini: Diante disso, como vai convencer o eleitor?

Ciro Gomes: Eu tenho um sentido moral superior, porque mesmo diante de todas objetivas condições hostis eu me bato para presidir o Brasil. Eu sou penetra nesta festa, não convidado para essa festa de brancos, que a elite brasileira marca para todos parecerem que estão brigando, mas para reproduzir o mesmo projeto de 30 anos para cá. Eu quero, por amor, paixão e patriotismo ao Brasil, mudar essa história. Eu acho que é possível. Eu tenho que trocar o ambiente onde o debate acontece, quando temos Chico, contra Mané ou Maria, com todos os defeitos e paixões, para explorar elementos superficiais simbólicos da vida do nosso povo, como moral, religião, um pseudo anti-comunismo, diante de algo que nem existe mais. Então quero trocar, neste debate não tenho lugar. Política é um lugar para gente discutir com inteligência. Se eu tiver êxito na troca do método, eu já ganhei. Está começando a acontecer, porque nós tivemos que votar tudo no Bolsonaro, a maioria do povo brasileiro. No povo do Sul foi 75%, que é um povo que eu conheço, trabalhador, honesto, digno, competente, sério. Esse pedaço do Brasil eu conheço com intimidade. Poucos catarinenses conhecem Santa Catarina como eu, porque eu vivo viajando, conhecendo as diversidades econômicas. Trabalhei como executivo da CSN, na recuperação das áreas degradadas da estrutura de carvão de Criciúma, conheço a agonia da indústria e a falta de infraestrutura das pontes de Joinville, conheço a importância da pesca, rivalizamos Ceará com Santa Catarina para ver quem pesca melhor e mais o camarão. Conheço bem o turismo daqui, eu vim aprender como se profissionaliza a estrutura. Vi com que agonia Santa Catarina, que é um dos destinos mais simpáticos do Brasil, teve o pior aeroporto do país durante décadas.

Em 2018, sob a maior crise econômica produzida pelo PT e pelo Lula, com notícia de corrupção generalizada e orgânica no governo. Um povo assim vai votar contra isso. O Bolsonaro teve a habilidade, por propaganda, sendo ele mesmo um corrupto, grande incompetente e com nada na cabeça, empacotou como sendo o cara que iria moralizar o Brasil, acabar com a roubalheira e etc. Enganou as pessoas... Paciência! Nós temos que respeitar as pessoas, ter paciência e humildade diante dos fatos, e pedir ao Deus que ilumine minha palavra.

Schettini: O senhor se vê culpado ao sair do debate no segundo turno em 2018?

Ciro Gomes: Não. Não sou obrigado a fazer campanha com quadrilha. Se tem um brasileiro que não tem culpa, sou eu. Eu fui candidato, acordando de madrugada, dormindo tarde, comendo pouco, brigando, sendo agredido, sendo insultado, como é normal da vida. Não estou me queixando de nada. Eu fui ao debate da Globo com uma sonda pendurada na perna, porque fiz uma cirurgia de emergência. Eu dei tudo de mim para salvar o Brasil desta equação. O Lula dentro da cadeia mente que é candidato. Isso aconteceu no meu país. O Lula mentiu para o povo dizendo que era candidato, quando ele sabia que a Lei da Ficha Limpa não permitia que ele fosse candidato. Depois escolhe o [Fernando] Haddad, que no ano anterior tinha perdido as eleições no primeiro turno com 16% dos votos de SP para reeleição. Qualquer lugar do mundo escolhe para ser o candidato a presidente, numa grise grave desta, o seu melhor quadro. O Lula escolheu exatamente o poste dois. O que era o problema do Brasil naquela data? O desastre que aconteceu no governo Dilma. Não estou atacando a Dilma, estou falando de números concretos. A maior crise econômica da história do Brasil foi o PT que produziu. Números: 7% de queda do PIB. O Bolsonaro com tragédia de pandemia, derrubou 4,5%. A Dilma derrubou em 7% a economia do Brasil e nomeou para administrar isso o lado oposto do que prometeu. Isso é o PT. Em cima disso a ladroeira generalizada, não dá pra dizer que o [Antônio] Palocci foi um acidente. Aí eu digo isso e no dia seguinte o Lula mente, não é candidato, apresenta o Haddad. Todo mundo via que se eu fosse o candidato no segundo turno ganhava do Bolsonaro, mas o Lula fez uma aposta. Vamos fazer o Brasil entrar pelo cano, o povo vai esquecer as besteiras que fizemos e a gente vai voltar. Aí eu digo isso hoje e amanhã com que vergonha na cara me apresento para a sociedade brasileira? O que que eu fiz, a ordem do meu partido, declarei um apoio crítico ao Haddad e não participei da campanha. Esse é meu direito de cidadão. Mas isso me credencia a dizer ao povo brasileiro que, lá atrás, eu era contra o Lula e o Bolsonaro.


Schettini: Quem é mais corrupto. Lula ou Moro?

Ciro Gomes: Ambos. O Código Penal os diferencia. Eu sou professor de Direito. O que se chama corrupção? Corrupto é o autor do crime de corrupção, que está tipificado no Código Penal. Existe uma expressão em latim que diz “nullum crimen, nulla poena sine praevia lege”, ou seja, “não existe crime, nem pena sem lei anterior que a defina”. Só é crime aquilo que a lei define. O que é corrupção passiva, é receber para si ou para terceiros, promessa ou vantagem indevida. Sergio Moro, um juiz que condena um político, e larga mão da isenção de juiz para se tornar ministro do outro político que ganha a eleição como consequência, pelo menos é possível que se diga, da sentença que condenou o outro político a não participar da eleição, mais a notícia de que ele aceitou o cargo com a promessa de uma vantagem que era ser ministro vitalício do Supremo Tribunal Federal, fato que ele nunca negou. Se ele tivesse recebido a promessa de um saco de dinheiro, todo mundo entenderia. Porém eu, que sou professor de Direito, não preciso que seja um saco de dinheiro, vantagem indevida é uma promessa de nomeação para um cargo de ministro do STF. Ele é um corrupto.

Isso é o venial, agora vamos ao mais grave. Aonde o Sergio Moro trabalha hoje? Qual a moeda que paga ele? Qual a empresa que paga ele? Onde ele mora hoje? Ele ganha em dólar e trabalha para uma empresa americana sedeada em Washington, D. C., que é claramente associada ao serviço de inteligência norte-americano, a quem ele presta serviços e vassalagens. Lá ele ganha para administrar a massa falida da empresa Norberto Odebrecht, que ele quebrou. Pera aí um pouquinho. Qualquer país que tenha um pouquinho de seriedade na sua elite, colocava esse cidadão na cadeia. Isso é corrupção pura, na veia. Eu tenho todos os documentos de que a operação Lava Jato teve a atuação do FBI e NSI, órgão americanos, fora dos mecanismos diplomáticos e legais. Eu tenho todos os documentos. Manda ele entrar no debate que você vai ver eu tirar a máscara deste bandido. Esse cara está aí para destruir o Brasil a serviço dos americanos.

Schettini: Mas e o Lula?

Ciro Gomes: Na corrupção do PT, o autor é o Lula. O Lula é corrupto e corruptor. De onde tiro essa conclusão? Eu fui testemunha, de muito perto, do processo de corrupção do Lula. Ele teve o devido processo legal? Não, não teve. Porque o Sergio Moro, pilantra, saiu da isenção de juiz e virou o patrocinador do procedimento. De 2015 em diante, tinha um cara chamado Ciro Gomes que dizia que ele estava semeando nulidade, de que Moro estava plantando a impunidade do Lula e do PT. Porque processo legal viciado com suspeição, vai ser tudo anulado. As operações Satiagraha e Castelo de Areia terminaram do mesmo jeito. Se o Lula não teve o processo legal, não dá para negar que ele levou a corrupção ao centro de seu modelo de poder, lá como hoje. O Lula deu R$ 1 bilhão de contrato sem licitação, da Petrobras, ao Eunício Oliveira. Com quem com Lula anda hoje? Com Eunício Oliveira. O nome da empresa é Manchester. Eu gosto de dizer as coisas concretamente. O Lula entregou Furnas ao Eduardo Cunha. Aí ele escolhe Michel Temer para ser vice, que é um corrupto, que roubava no Porto de Santos, que controlava as docas aqui de Itajaí. O Michel Temer roubava lá, eu tenho o processo. O Lula coloca esse cara na linha de sucessão. Lula entregou a Petrobras ao PP, que é o Ciro Nogueira, que hoje comanda o governo Bolsonaro. Lula nomeou Geddel Vieira Lima, aquele das malas com R$ 51 milhões, para ser ministro no Ministério que eu ocupei. A Dilma nomeou esse cidadão como vice-presidente da Caixa Econômica Federal. Os dois sabiam, concretamente, que o Geddel é um ladrão. Vai dizer que ele não sabia. Eu só falei dos casos que eu denunciei, publicamente, na data.


Schettini: O Tasso Jereissati e o Aécio Neves estão trabalhando o Eduardo Leite para ser seu vice?

Ciro Gomes: Não. Eles estão trabalhando para o Eduardo ser presidente e por eles tenho grande simpatia. Eu quero conversar com o Brasil inteiro com duas tarefas: se eleger e governar. Para governar, esse PSDB que o Tasso representa, será um interlocutor de primeira hora. É gente séria, trabalhadora, que tem espírito público. Eu conheço, fui fundador daquilo lá. Fui o primeiro governador eleito pelo PSDB, e o único nas eleições de 1990. Vem o Doria, passa por cima do Alckmin, muda o nome dele para BolsoDoria, e agora é uma viúva do Bolsonaro que vem se apresentar como anti-Bolsonaro?


Schettini: Mas o Eduardo também, não?

Ciro Gomes: Não. O Eduardo votou. Como eu votei no Haddad. Que que a gente faz no segundo turno? Vou votar em branco, votar nulo, pode... Mas não é uma atitude. O Eduardo Leite votou, mas o adversário dele votou também. Porque 80% de vocês aqui do Sul votaram no Bolsonaro. Lá no Ceará, o Bolsonaro não tinha ido ao segundo turno, tirou o terceiro lugar.


Schettini: E o projeto de Fernando Coruja em Santa Catarina?

Ciro Gomes: O Coruja é nosso pré-candidato a governador. Com o Manoel [Dias] vão conduzir com diálogo. A gente sabe das dificuldades e dos problemas, mas se o nosso caminho fosse o da facilidade... Pode acreditar que tem muita gente com saco de ouro aí interessada na grife PDT, para calar minha voz e críticas, mas não vamos por este caminho. Vamos apresentar um projeto alternativo, que também está sendo amadurecido para Santa Catarina. O Coruja amadureceu, com vocação parlamentar, intelectual, de executivo, prefeito extraordinário, secretário qualificadíssimo, moralmente inatacável, que tem essa atitude equilibrada, de compreender a importância da iniciativa privada, mas olhar mais dedicadamente aos mais pobres.


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